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quinta-feira, 23 de agosto de 2012

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         Capitulo 35


         Liguei minha moto super barulhenta, sempre gostei deste estilo meia rockeira, desleixada da vida, sem ligar pra nada, família, amigos, amor, sem nada. Apenas no mundo, eu era assim no mundo.
         Rapidamente cheguei em casa. Vish, minha casa. O que era aquilo?! Tão fria, tão silenciosa, o ar era de velório. Fui ao meu quarto aquilo não era mais meu recanto feliz, não tinha nem vida naquele lugar. Olhei o som, pensei em ligar uma musica algo pra passar o tempo e esquecer tudo. Não consegui, passei a mão sob as caixinhas de som ao redor da estante, cada pedaço do meu corpo se arrumou para jogá-las longe.
         Controlei-me.
         Fui ao banheiro, tomei aquele banho, descarregador de energias ruins. Só que elas não saíram, não queriam me deixar, me senti cada vez mais suja, mais porca, mais nojenta.
         Sai enrolada na toalha, meus pés molhados faziam pegadas pelo quarto. Andava de um lado pra outros, a procura do nada. Ao longe, atrás do guarda roupa, vi uma bolsa, a minha bolsa não muito pequena, minha bolsa de caveirinha que mamãe me dera quando estava no México.
- Aí... Saudades da minha família.
         Sem nem mesmo vestir uma roupa, sem nem se quer pensar direito, peguei aquela mala, de repente minha única vontade era sumir, desaparecer. E desejava nunca ter saído do México.
         Já se passava das 20 horas. Andreza ainda não tinha voltado, provavelmente se acertou com Luan, e eu? Eu iria sobrar nessa historia. Hora de desaparecer.
- Dani? Dani... O que você ta fazendo? – perguntou Duda espantada.
- To indo embora Duda, pra mim essa historia já foi longe demais.
         Ainda parada na porta Eduarda olhou para os lados, como se estivesse procurando alguém, e na verdade estava.
- Cadê Deza? Você falou com ela? – não respondi – Dani – gritou – Fala comigo pelo amor de Deus.
         Parei, sentei na cama, continuando dobrando as roupas meio que por cima.
- Eu a vi, mas ta tudo terminado, tudo resolvido, ela me quer longe, é isso que vou fazer, ficar longe.
- Como assim? Pra onde você vai? – disse se aproximando e começando a tirar as roupas da sacola.
- Não... Para, larga isso Duda – briguei colocando-as de volta. – Eu não sei pra onde eu vou... Na verdade não faço a mínima ideia, só sei que não quero ficar aqui, me deixa...
- Você é muito cabeça dura, Dani... Como pode.
         Acabei de juntar minhas coisas em silencio, de mim só ouvia o coração batendo, respirar? Eu não sabia se estava respirando ou fungando de raiva. Raiva, ódio, nojo, de mim... De mim, por ser fraca, e besta eternamente besta.
         Tudo arrumado, acabado. Minhas coisas que não eram tantas assim couberam numa pequena mala. A mala de mamãe. Eduarda já estava mais que desesperada, sentada na poltrona perto de minha cama, só observando.
- Preciso que você mande os restos das minhas coisas assim que conseguir arrumar um lugar pra ficar. Tipo, não sei quando vai ser, vou ver se fico num hotel até achar sei lá, pensão... Algo assim, não se preocupe amiga – me aproximei de Eduarda – Eu vou ficar bem, mas pro bem de vocês também, é preciso fazer isso... Deixa o fogo aqui abaixar, deixa colocarmos tudo em ordem. Não se preocupe ta? – a abracei, fazendo aquela pititinha sumir no meio dos meus braços – Te vejo na aula segunda.
         Dei um beijo em sua testa. Logo, peguei minha mala e meu capacete. “Ir de moto com essa mala não vai da muito certo”. – pensei.
- Toma Dani... – Duda ao me ver na porta da sala, joga sua chave. – Pelo menos leva meu carro, se você não encontrar onde ficar durma dentro dele né, e segunda vou de moto pra aula, e te devolvo ela.
- Obrigada Duda! – disse enfim. Mal joguei minha chave na estante e logo virei novamente pra porta. Odeio despedidas.
         O carro de Dudinha era bem pequeno, a cara dela rsrsrs... Duvido que consiga dormi por aqui. Liguei o som, Away From The Sun – 3 Doors Down.
- É pra acabar o mundo – disse a mim mesma.
         Rodei a cidade quase tuda, afim de achar um lugarzinho pra dormi, não tinha muito dinheiro no bolso. Hotéis caros, pensões cheias, véspera de fim de ano essa merda sempre é assim.
         Falando em final de ano, meu aniversario já ta quase chegando, é... ô aniversario bom viu, sem família, sem amigos, sem ninguém pra comemorar. É a vida né. Um dia a gente tem muito outro dia, temos nada.
         Parei num estacionamento perto da praia. Gosto muito daquele lugar, pensei em sair do carro. Mas tava frio abaixei o som, quase no mudo. E assim, os olhos pesados pelas lagrimas escondidas, foram se fechando.
         Ao som de Just a Dream meu telefone toca.
- Merda não posso nem dormi em paz – xinguei em silencio. Procurei passando a mão no banco ao lado, a fim de achar o inferno do telefone. Rapidamente o encontrei. Nem identifiquei quem era. Apenas queria acabar com aquilo logo, e voltar a dormir.
- Oi... – disse um pouco seca.
- Dani... Onde você está? Ta tudo bem? – perguntou Luan quase sem voz.
- Você ainda pergunta Luan? Como você acha que eu to? Briguei com minha melhor amiga, sai de casa... Eu to bem obrigada. – o ódio por Luan era grande, mas acho que em mim a raiva, era estendida a uma única pessoa. A mim mesma.
- Você conversou com a Deza? Como assim saiu de casa? Dani, onde você está?
- Luan... Pelo amor de Deus, me deixa em paz por favor. Nós dois juntos, já destruímos vidas de muita gente, deixa... Deixa eu sozinha.
- Mas Dani...
         Desliguei.
Minha mão pegava fogo com vontade de estraçalhar cada pedacinho do meu cérebro, e do coração idiota que carregava. Meus olhos não conseguiram mais segurar as lagrimas, e assim elas caíram.
Em meio a tristeza, e o silencio do estacionamento. O choro e a dor eram o único barulho, até que todo silencio foi abafado pela chamada do meu celular.
- Mas que droga... Eu já disse que não era pra você me ligar novamente – falei sem ouvir, sem até mesmo pensar.
- Ei Dani, que violência é essa? Te fiz nada não! - com um tom assustado, reconheci quem era ao telefone, desta vez não era Luan, era Tony, meu Doutor... Meu anjo da guarda.
- Aí meu Deus... desculpa Tony, pensei que você outra pessoa.
- Uma pessoa que você não quer ver nem pintado de ouro né Dani.
- Se possível, nem ouro nem prata... Quero mais é aquele menino longe de mim.
- Nossa. Pra te deixar com tanto ódio assim, tem que haver um bom motivo né.
- Esse é um bom motivo Tony. – sorri de lado, tentando esconder as lembranças, e as cenas que vinham fortemente na memória.
- Onde você está? Posso passar aí na sua casa, to aqui perto, aí resolvi te ligar...
- Não to em casa Tony.
- Hã? – sua voz mudou completamente, ficou um pouco decepcionado.
- Eu estou num estacionamento – sorri com o fato – Tive que sair de casa, aconteceu probleminhas lá.
- Num estacionamento, Dani? O que você está fazendo num estacionamento? São quase meia noite.
- Minha intenção é fazer este estacionamento minha casinha por hoje.
- Você ficou doida? – se alterou – Ah... Esqueci com quem estou falando, você “é doida” né.
- Ha-Há-Há... – fingi risada, super falsa. Abaixei um pouco mais o banco. Ah, ele não abaixa mais. Que droga!
- Você vai dormi aí?
- Uai, sim... A Duda me emprestou o carro dela, vou dormi nele.
- Dani, você vai acorda toda amassada amanhã, esqueceu que o carro da Duda, é pra formiga?
- kkkkkk... essa vou ter que contar a ela.
- Vem pra cá. Digo, você pode ficar aqui em casa, até achar um lugar, ou voltar pra sua casa, eu fico aqui sozinho mesmo, vai ser bom ter sua companhia aqui Dani.
- Serio? – parei pra pensar, nas possibilidades, será? Será? Aí meu Deus, é muita tentação pra uma pessoa só, não contei a vocês, mas eu tenho uma queda pelo Tony hih shiiiu, não conta pra ele. – Não vai ter problema? Tipo, eu sou sua aluna e tudo né Tony.
- Dani, acima de minha aluna você é minha amiga, você acha que eu morando sozinho deixaria você dormi na rua? Nunca né. Vem pra cá. To indo pra casa, te espero lá, não demore. Beijos – Tony desligou o telefone. Filho da mãe desligou na minha cara.
         Bom, não podia perder essa oportunidade. Aín, eu precisava de um banho e de uma cama bem quentinha. Liguei o carro de Duda, e imediatamente segui em direção a casa de Tony, já fui la varias vezes pra gente ver filme, meu amigo de longos anos né. Ele sempre me ajudou, anem... olha só, ta ali novamente me acolhendo.
         Tony morava sozinho, vivia só pra estudar e trabalhar trabalhava no hospital central, e tinha sua própria clinica de neurologia, alem de tudo aquilo aguentava os alunos chatos da faculdade.
         Meu grande amigo.
         Rapidamente já estava na casa de Tony, parei com medo de me aproximar. Por que estava com medo? Aff, até parece que nunca estive ali, sozinha com ele.
         Mas agora seria diferente, eu não iria ali ver filme, eu iria ali morar. Morar com ele. Ai meu Deus, nós dois sozinhos nessa enorme casa. Isso não vai prestar – pensei ainda dentro do carro.
         Respirei fundo. Apanhei minha bolsa que me acompanhava no banco da frente.
- Vamos lá – caminhei sobre a grama. A casa de Tony era tão linda, gramado super aparado e cuidado pelo Jardineiro Sebastião seu grande amigo dizia Tony, por viver sozinho os empregados começaram a ser sua família. A mãe de Tony morreu quando era bem novo, e seu pai sumiu no mundo quando tinha 3 anos, vida difícil né. Ele foi morar com a avó e assim seguiu até agora, faz nem 1 ano que ela morreu. Velhice. Morreu dormindo, contou-me.
         Toquei a campainha, quis dar meia volta e ir embora, queria tanto meu quartinho de volta. Mas já era tarde demais, a porta estava se abrindo e por trás dela, ali estava meu loirinho lindo. Usando uma bermuda super trapo, e uma camiseta cavada.
- Oi... – disse um pouco tímida.
- Oi amor. – cumprimentou Tony se jogando em meu corpo. Seus braços acolhedores apertavam-me.
- Tony... Eu... Eu não sou de ferro. – brinquei.
- Tava com saudades de você.
- Você me viu ontem – lembrei.
- Mas foi muito tempo. – sorriu – Vem entra. – com um solavanco pegou rapidamente minha pequena mala.
- So isso?
- Você acha o quê? Sou estudante de medicina, não sou rica não meu filho. – fui entrando, já estava mais calma.
- Sei como é essa vida, passei por isso por um longo tempo. – Tony foi subindo as escadas – Vem vou te mostrar seu quarto.
         O segui. A casa era enorme, nunca tinha visitado a parte de cima, so a sala e a cozinha, e seu quarto. Quando resolvíamos ver TV lá. – não pensem besteira.
         Nunca fiquei com Tony, oportunidade nunca faltou, mas não sei. Sempre fui fiel ao Danilo, besteira minha né. Acabei levando chifre. Droga de amor!
- Aqui! – disse Tony, parando de uma vez no meio do corredor, fazendo-me tombar nas suas costas. Estava muito distraída em meus pensamentos. – Calma Dani, isso aí é meu. – sorriu.
- Desculpa... Mas você também fica parando de uma vez no meio do caminho né... não tenho culpa.
- Olha... calma aí menina.
         Tony empurrou com facilidade a porta. O quarto era pequeno, pequeno para os que já to acostumada a ver, o quarto dele, por exemplo, daria dois daquele. Mas fiquei feliz, não gosto nada grande, fico perdida e com uma sensação estranha de abandono.
         Uma cama de casal no centro, um guarda roupa do lado direito embutido com a parede, diz ele que havia um banheiro também, não vi.
A casa era antiga, só foi restaurada, mas seu projeto antigo continua ali. Bem que os quartos, os azulejos do banheiro todos estavam bem conservados, nada foi mudado por inteiro, apenas a fachada, Tony é enjoado com a aparência.
         Enfim, entrei calmamente observando cada pedaço do meu novo cantinho feliz. Estava com um cheirinho tão bom de lugar limpo, de casa de família, casa de mamãe tinha esse cheiro. Olhei Tony, ainda parado na porta segurando minha mala. Ele sorriu.
- Eu amei. Obrigada! – agradeci correndo pros seus braços.
- Por nada minha linda, agora vai descansar, se precisar de alguma coisa vou estar no meu quarto estudando.
- Ta bom... – peguei minha mala de sua mão. Tony deu um beijo em minha testa e voltou para o corredor. – Tony – gritei – Você é um bom amigo, obrigada.
- Não tem que agradecer – sorriu. Abaixou a cabeça e continuou seu caminho.
         Respirei fundo. Seu perfume continuava no ar. Aí Deus, me ajuda. – pedi em silencio.
         Fechei a porta. Coloquei a mala numa pequena poltrona perto do guarda roupa. Olhei pela janela, a casa era bem alta estávamos no segundo andar e mesmo assim parecia que tinha uns 2 abaixo de nós.
         Peguei um pijama na mala bagunçada. Agora era achar um banheiro. Havia um neste quarto, Tony disse, mas cadê?
         Olhei, por entre os cantos, perto da janela. Parei. O guarda roupa, lembrei que nas velhas casas em minha cidade, o povo dos casarões tinham em seus quartos banheiros embutidos nos guarda roupas. Estranho né? Mas é. E foi tiro e queda. Achei. Na porta do meio, dava entrada ao banheiro. Pequeno e confortável. Azulejos azuis celeste, havia banheira ali. Tony era muito conservador deixou tudo como se estivesse na época que a casa foi construída.
         Liguei a torneira, dourada. Uma água tão quentinha. Aí é hoje que durmo nesta banheira.
         Joguei minha toalha por cima do ferro de apoio. E assim me joguei na banheira. Estava tão gostoso que devo ter cochilado. Enxuguei e fui pro quarto. Enfiei debaixo do edredom macio. Precisava sumir por alguns anos.

Continua...

Um comentário:

  1. Acho que Dani deveria se relacionar amorosamente com Tony.

    Yana

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