Capitulo 35
Liguei minha moto super barulhenta, sempre gostei deste estilo meia rockeira,
desleixada da vida, sem ligar pra nada, família, amigos, amor, sem nada. Apenas
no mundo, eu era assim no mundo.
Rapidamente cheguei em casa. Vish, minha casa. O que era aquilo?! Tão fria, tão
silenciosa, o ar era de velório. Fui ao meu quarto aquilo não era mais meu
recanto feliz, não tinha nem vida naquele lugar. Olhei o som, pensei em ligar
uma musica algo pra passar o tempo e esquecer tudo. Não consegui, passei a mão
sob as caixinhas de som ao redor da estante, cada pedaço do meu corpo se
arrumou para jogá-las longe.
Controlei-me.
Fui ao banheiro, tomei aquele banho, descarregador de energias ruins. Só que
elas não saíram, não queriam me deixar, me senti cada vez mais suja, mais
porca, mais nojenta.
Sai enrolada na toalha, meus pés molhados faziam pegadas pelo quarto. Andava de
um lado pra outros, a procura do nada. Ao longe, atrás do guarda roupa, vi uma
bolsa, a minha bolsa não muito pequena, minha bolsa de caveirinha que mamãe me
dera quando estava no México.
- Aí... Saudades da minha família.
Sem nem mesmo vestir uma roupa, sem nem se quer pensar direito, peguei aquela
mala, de repente minha única vontade era sumir, desaparecer. E desejava nunca ter
saído do México.
Já se passava das 20 horas. Andreza ainda não tinha voltado, provavelmente se
acertou com Luan, e eu? Eu iria sobrar nessa historia. Hora de desaparecer.
- Dani? Dani... O que você ta fazendo? –
perguntou Duda espantada.
- To indo embora Duda, pra mim essa
historia já foi longe demais.
Ainda parada na porta Eduarda olhou para os lados, como se estivesse procurando
alguém, e na verdade estava.
- Cadê Deza? Você falou com ela? – não
respondi – Dani – gritou – Fala comigo pelo amor de Deus.
Parei, sentei na cama, continuando dobrando as roupas meio que por cima.
- Eu a vi, mas ta tudo terminado, tudo
resolvido, ela me quer longe, é isso que vou fazer, ficar longe.
- Como assim? Pra onde você vai? – disse
se aproximando e começando a tirar as roupas da sacola.
- Não... Para, larga isso Duda – briguei
colocando-as de volta. – Eu não sei pra onde eu vou... Na verdade não faço a
mínima ideia, só sei que não quero ficar aqui, me deixa...
- Você é muito cabeça dura, Dani... Como
pode.
Acabei de juntar minhas coisas em silencio, de mim só ouvia o coração batendo,
respirar? Eu não sabia se estava respirando ou fungando de raiva. Raiva, ódio,
nojo, de mim... De mim, por ser fraca, e besta eternamente besta.
Tudo arrumado, acabado. Minhas coisas que não eram tantas assim couberam numa
pequena mala. A mala de mamãe. Eduarda já estava mais que desesperada, sentada
na poltrona perto de minha cama, só observando.
- Preciso que você mande os restos das
minhas coisas assim que conseguir arrumar um lugar pra ficar. Tipo, não sei
quando vai ser, vou ver se fico num hotel até achar sei lá, pensão... Algo
assim, não se preocupe amiga – me aproximei de Eduarda – Eu vou ficar bem, mas
pro bem de vocês também, é preciso fazer isso... Deixa o fogo aqui abaixar,
deixa colocarmos tudo em ordem. Não se preocupe ta? – a abracei, fazendo aquela
pititinha sumir no meio dos meus braços – Te vejo na aula segunda.
Dei um beijo em sua testa. Logo, peguei minha mala e meu capacete. “Ir de moto
com essa mala não vai da muito certo”. – pensei.
- Toma Dani... – Duda ao me ver na porta
da sala, joga sua chave. – Pelo menos leva meu carro, se você não encontrar
onde ficar durma dentro dele né, e segunda vou de moto pra aula, e te devolvo
ela.
- Obrigada Duda! – disse enfim. Mal
joguei minha chave na estante e logo virei novamente pra porta. Odeio
despedidas.
O carro de Dudinha era bem pequeno, a cara dela rsrsrs... Duvido que consiga
dormi por aqui. Liguei o som, Away From The Sun – 3 Doors Down.
- É pra acabar o mundo – disse a mim
mesma.
Rodei a cidade quase tuda, afim de achar um lugarzinho pra dormi, não tinha
muito dinheiro no bolso. Hotéis caros, pensões cheias, véspera de fim de ano essa
merda sempre é assim.
Falando em final de ano, meu aniversario já ta quase chegando, é... ô
aniversario bom viu, sem família, sem amigos, sem ninguém pra comemorar. É a
vida né. Um dia a gente tem muito outro dia, temos nada.
Parei num estacionamento perto da praia. Gosto muito daquele lugar, pensei em
sair do carro. Mas tava frio abaixei o som, quase no mudo. E assim, os olhos
pesados pelas lagrimas escondidas, foram se fechando.
Ao som de Just a Dream meu telefone toca.
- Merda não posso nem dormi em paz –
xinguei em silencio. Procurei passando a mão no banco ao lado, a fim de achar o
inferno do telefone. Rapidamente o encontrei. Nem identifiquei quem era. Apenas
queria acabar com aquilo logo, e voltar a dormir.
- Oi... – disse um pouco seca.
- Dani... Onde você está? Ta tudo bem? –
perguntou Luan quase sem voz.
- Você ainda pergunta Luan? Como você
acha que eu to? Briguei com minha melhor amiga, sai de casa... Eu to bem
obrigada. – o ódio por Luan era grande, mas acho que em mim a raiva, era
estendida a uma única pessoa. A mim mesma.
- Você conversou com a Deza? Como assim
saiu de casa? Dani, onde você está?
- Luan... Pelo amor de Deus, me deixa em
paz por favor. Nós dois juntos, já destruímos vidas de muita gente, deixa... Deixa
eu sozinha.
- Mas Dani...
Desliguei.
Minha mão pegava fogo
com vontade de estraçalhar cada pedacinho do meu cérebro, e do coração idiota
que carregava. Meus olhos não conseguiram mais segurar as lagrimas, e assim
elas caíram.
Em meio a tristeza, e
o silencio do estacionamento. O choro e a dor eram o único barulho, até que
todo silencio foi abafado pela chamada do meu celular.
- Mas que droga... Eu já disse que não
era pra você me ligar novamente – falei sem ouvir, sem até mesmo pensar.
- Ei Dani, que violência é essa? Te fiz
nada não! - com um tom assustado, reconheci quem era ao telefone, desta vez não
era Luan, era Tony, meu Doutor... Meu anjo da guarda.
- Aí meu Deus... desculpa Tony, pensei
que você outra pessoa.
- Uma pessoa que você não quer ver nem
pintado de ouro né Dani.
- Se possível, nem ouro nem prata... Quero
mais é aquele menino longe de mim.
- Nossa. Pra te deixar com tanto ódio
assim, tem que haver um bom motivo né.
- Esse é um bom motivo Tony. – sorri de
lado, tentando esconder as lembranças, e as cenas que vinham fortemente na
memória.
- Onde você está? Posso passar aí na sua
casa, to aqui perto, aí resolvi te ligar...
- Não to em casa Tony.
- Hã? – sua voz mudou completamente,
ficou um pouco decepcionado.
- Eu estou num estacionamento – sorri
com o fato – Tive que sair de casa, aconteceu probleminhas lá.
- Num estacionamento, Dani? O que você
está fazendo num estacionamento? São quase meia noite.
- Minha intenção é fazer este
estacionamento minha casinha por hoje.
- Você ficou doida? – se alterou – Ah...
Esqueci com quem estou falando, você “é doida” né.
- Ha-Há-Há... – fingi risada, super
falsa. Abaixei um pouco mais o banco. Ah, ele não abaixa mais. Que droga!
- Você vai dormi aí?
- Uai, sim... A Duda me emprestou o
carro dela, vou dormi nele.
- Dani, você vai acorda toda amassada
amanhã, esqueceu que o carro da Duda, é pra formiga?
- kkkkkk... essa vou ter que contar a
ela.
- Vem pra cá. Digo, você pode ficar aqui
em casa, até achar um lugar, ou voltar pra sua casa, eu fico aqui sozinho
mesmo, vai ser bom ter sua companhia aqui Dani.
- Serio? – parei pra pensar, nas
possibilidades, será? Será? Aí meu Deus, é muita tentação pra uma pessoa só, não
contei a vocês, mas eu tenho uma queda pelo Tony hih shiiiu, não conta pra ele.
– Não vai ter problema? Tipo, eu sou sua aluna e tudo né Tony.
- Dani, acima de minha aluna você é
minha amiga, você acha que eu morando sozinho deixaria você dormi na rua? Nunca
né. Vem pra cá. To indo pra casa, te espero lá, não demore. Beijos – Tony
desligou o telefone. Filho da mãe desligou na minha cara.
Bom, não podia perder essa oportunidade. Aín, eu precisava de um banho e de uma
cama bem quentinha. Liguei o carro de Duda, e imediatamente segui em direção a
casa de Tony, já fui la varias vezes pra gente ver filme, meu amigo de longos
anos né. Ele sempre me ajudou, anem... olha só, ta ali novamente me acolhendo.
Tony morava sozinho, vivia só pra estudar e trabalhar trabalhava no hospital
central, e tinha sua própria clinica de neurologia, alem de tudo aquilo aguentava
os alunos chatos da faculdade.
Meu grande amigo.
Rapidamente já estava na casa de Tony, parei com medo de me aproximar. Por que
estava com medo? Aff, até parece que nunca estive ali, sozinha com ele.
Mas agora seria diferente, eu não iria ali ver filme, eu iria ali morar. Morar
com ele. Ai meu Deus, nós dois sozinhos nessa enorme casa. Isso não vai prestar
– pensei ainda dentro do carro.
Respirei fundo. Apanhei minha bolsa que me acompanhava no banco da frente.
- Vamos lá – caminhei sobre a grama. A
casa de Tony era tão linda, gramado super aparado e cuidado pelo Jardineiro
Sebastião seu grande amigo dizia Tony, por viver sozinho os empregados
começaram a ser sua família. A mãe de Tony morreu quando era bem novo, e seu
pai sumiu no mundo quando tinha 3 anos, vida difícil né. Ele foi morar com a
avó e assim seguiu até agora, faz nem 1 ano que ela morreu. Velhice. Morreu
dormindo, contou-me.
Toquei a campainha, quis dar meia volta e ir embora, queria tanto meu quartinho
de volta. Mas já era tarde demais, a porta estava se abrindo e por trás dela,
ali estava meu loirinho lindo. Usando uma bermuda super trapo, e uma camiseta
cavada.
- Oi... – disse um pouco tímida.
- Oi amor. – cumprimentou Tony se
jogando em meu corpo. Seus braços acolhedores apertavam-me.
- Tony... Eu... Eu não sou de ferro. –
brinquei.
- Tava com saudades de você.
- Você me viu ontem – lembrei.
- Mas foi muito tempo. – sorriu – Vem
entra. – com um solavanco pegou rapidamente minha pequena mala.
- So isso?
- Você acha o quê? Sou estudante de
medicina, não sou rica não meu filho. – fui entrando, já estava mais calma.
- Sei como é essa vida, passei por isso
por um longo tempo. – Tony foi subindo as escadas – Vem vou te mostrar seu
quarto.
O segui. A casa era enorme, nunca tinha visitado a parte de cima, so a sala e a
cozinha, e seu quarto. Quando resolvíamos ver TV lá. – não pensem besteira.
Nunca fiquei com Tony, oportunidade nunca faltou, mas não sei. Sempre fui fiel
ao Danilo, besteira minha né. Acabei levando chifre. Droga de amor!
- Aqui! – disse Tony, parando de uma vez
no meio do corredor, fazendo-me tombar nas suas costas. Estava muito distraída
em meus pensamentos. – Calma Dani, isso aí é meu. – sorriu.
- Desculpa... Mas você também fica
parando de uma vez no meio do caminho né... não tenho culpa.
- Olha... calma aí menina.
Tony empurrou com facilidade a porta. O quarto era pequeno, pequeno para os que
já to acostumada a ver, o quarto dele, por exemplo, daria dois daquele. Mas
fiquei feliz, não gosto nada grande, fico perdida e com uma sensação estranha
de abandono.
Uma cama de casal no centro, um guarda roupa do lado direito embutido com a
parede, diz ele que havia um banheiro também, não vi.
A casa era antiga, só
foi restaurada, mas seu projeto antigo continua ali. Bem que os quartos, os
azulejos do banheiro todos estavam bem conservados, nada foi mudado por
inteiro, apenas a fachada, Tony é enjoado com a aparência.
Enfim, entrei calmamente observando cada pedaço do meu novo cantinho feliz.
Estava com um cheirinho tão bom de lugar limpo, de casa de família, casa de
mamãe tinha esse cheiro. Olhei Tony, ainda parado na porta segurando minha
mala. Ele sorriu.
- Eu amei. Obrigada! – agradeci correndo
pros seus braços.
- Por nada minha linda, agora vai
descansar, se precisar de alguma coisa vou estar no meu quarto estudando.
- Ta bom... – peguei minha mala de sua
mão. Tony deu um beijo em minha testa e voltou para o corredor. – Tony – gritei
– Você é um bom amigo, obrigada.
- Não tem que agradecer – sorriu.
Abaixou a cabeça e continuou seu caminho.
Respirei fundo. Seu perfume continuava no ar. Aí Deus, me ajuda. – pedi em
silencio.
Fechei a porta. Coloquei a mala numa pequena poltrona perto do guarda roupa.
Olhei pela janela, a casa era bem alta estávamos no segundo andar e mesmo assim
parecia que tinha uns 2 abaixo de nós.
Peguei um pijama na mala bagunçada. Agora era achar um banheiro. Havia um neste
quarto, Tony disse, mas cadê?
Olhei, por entre os cantos, perto da janela. Parei. O guarda roupa, lembrei que
nas velhas casas em minha cidade, o povo dos casarões tinham em seus quartos
banheiros embutidos nos guarda roupas. Estranho né? Mas é. E foi tiro e queda.
Achei. Na porta do meio, dava entrada ao banheiro. Pequeno e confortável.
Azulejos azuis celeste, havia banheira ali. Tony era muito conservador deixou
tudo como se estivesse na época que a casa foi construída.
Liguei a torneira, dourada. Uma água tão quentinha. Aí é hoje que durmo nesta
banheira.
Joguei minha toalha por cima do ferro de apoio. E assim me joguei na banheira.
Estava tão gostoso que devo ter cochilado. Enxuguei e fui pro quarto. Enfiei
debaixo do edredom macio. Precisava sumir por alguns anos.
Continua...
Acho que Dani deveria se relacionar amorosamente com Tony.
ResponderExcluirYana