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domingo, 18 de setembro de 2011

Esqueci de Te Esquecer...


Capitulo 6

Sem olhar pra trás, a rua estava tão parada, talvez fosse apenas impressão minha. Passei perto do vídeo-game meus amigos estavam sentados lá na porta.

- Oi povo. – Cumprimentei como sempre, só que desta vez não parei pra conversar.
- Onde você vai com tanta pressa? – Perguntou um deles.
- To indo na Graziiy.
- A ta bom, sei.
- Iiiih, começa não povo. – Despedi de todos, seguindo o meu caminho pela rua deserta da mini cidade.

            Caminhei olhando a rua com alguns buracos, minha mente estava longe, não sabia se o que estava pronta pra fazer era o certo, mas acordei disposta pra isso, eu estava fazendo o melhor sem duvida nenhuma, nada iria me fazer mudar de idéia, não agora.

            Cheguei de mansinho na entrada do beco, olhei aquelas casas, umas novinhas, outras antigas, tantas lembranças me vieram em mente, vivi a maior parte da minha infância ali, correndo com meus amigos, e minha prima, eu morava na casa da minha avó paterna, e minha avó materna morava na casa de frente, éramos muito unidos, depois de um tempo meu avô paterno morreu, aí nos mudamos de casa e viemos morar longe do beco, depois de mais alguns anos minha avó paterna também nos deixou meu pai muito abalado nem no beco não vem mais, minha tia, mãe da Graziiy ocupou a casa de meus avôs paternos. Minha avó materna saiu do beco também, veio morar ao lado de nossa casa, a única que pisa nas ruas de pedra do beco sou eu, raramente minha avó vem olhar a casa dela, colher algumas acerola do pé, mas muito pouco.

Depois de relembrar minha vida naquele pedaço de rua cheguei à casa de minha prima.
Graziiy estava deitada no sofá com o João Pedro no colo. Comendo como sempre e vendo TV.

- Oi! – Cumprimentei meio tristonha.
- Oi Pami.  
- Oi coisa fofa da Pam. – Brinquei com o João Pedro que mal me deu importância.
- E ai como você ta? – Perguntou Graziiy, sentando-se direito no sofá.
- To bem – Disse levando uma mão a minha barriga – Quer dizer nós estamos bem. Graziiy preciso falar com você amor, preciso de sua ajuda.
- Pode falar. – Graziiy colocou o João no chão pra ele ir brincar, o assunto era serio precisávamos conversar sem interrupções.
- Bom, eu to grávida né – Ri por que ainda não acreditava nisso – Ta, então eu preciso ir embora dessa cidade, minha mãe ta sofrendo muito com minha gravidez, poxa, são gêmeos, eu mal consigo cuidar de mim, ela acha que vou jogar tudo em cima dela, então preciso de sua ajuda pra sair do país.
- Do país Pam? Você não acha que isso é muito radical?
- Não Graziiy, pensei muito antes de chegar a essa conclusão, não posso mais morar no Brasil, tem o pai dos bebês, que não quero que ele saiba da existência deles, por que os gêmeos são apenas MEUS filhos, e de mais ninguém.
- Pami, bom eu posso te ajudar, mas me conta quem é o pai, não entendo, ele não vai te achar tão fácil se você apenas mudar de cidade.
- Mas ele esta em toda parte do Brasil, ele me segue aonde eu estou. –Abaixei minha cabeça, teria que ter certeza, eu não o veria mais, teria que ter certeza que não o encontraria em qualquer cidade que eu fosse, meus olhos se encheram d’água, a TV que ainda estava ligada, começou um comercial que eu já via milhares de vezes, comercial do DVD do Luan, uma lágrima traiu-me e escorreu pelo meu rosto.
- Ei Pam, não me diz que o pai é o... – Fez silêncio, Graziiy não continuou a falar.

            Limpei minhas lágrimas, levantei do sofá a fim de desligar a TV, pois o comercial ainda não havia acabado.
- Sim Graziiy, o Luan é o pai dos gêmeos.
- Mas Pam, como? Você ficou com o Luan quando? Por que não contou antes? Ele tem que saber que vai ser pai, você não pode esconder isso dele.
- Posso e vou esconder – Disse voltando a me sentar – Por favor, não conte a ninguém sobre isso, só estou lhe contando por que preciso de sua ajuda, preciso que você me ajude a sumir do país.
- Ta bom Pam, mesmo sabendo que é errado eu vou te ajudar ta, e me diz pra onde vamos?
- Como assim vamos?
- Uai você ta achando que vou deixar você ir embora pra um país desconhecido grávida de gêmeos?
- Você ta falando serio? – Perguntei sem acreditar no que minha prima estava falando, mordi o canto do lábio e abri um sorriso chorão, a abracei, que alivio estava mesmo com medo de ir embora sozinha. – Obrigada.
- Por nada, agora me diz pra onde você ta querendo ir?
- Pra Bélgica. – Falei com firmeza me livrando de seus braços.
- Bélgica? Com que dinheiro você vai pra Bélgica Pamela?
- Minhas economias Graziiy, acho que dá pra nos duas e ainda sobra.
- Desde quando você junta dinheiro?
- Desde uns meses muié, tava guardando pra minha Faculdade de Medicina né, caso eu tivesse que comprar algo muito caro eu teria o dinheiro, mas esse momento ele vai ser mais útil.
- Você tem certeza? E seus pais?
- Eles estão sofrendo muito, vai ser melhor assim, eu os desapontei quando engravidei.
- Você que sabe né Pam.
- É... Eu já arrumei tudo, depois você arruma seus documentos, que eu vou dá andamento no seu passaporte, junto com o meu.
- Ta bom, e que dia agente vai?
- Assim que tudo ficar pronto. – Sorri de alivio.

            Ir com minha prima pra Bélgica seria bom, pelo menos companhia eu teria lá. Alguns dias se passaram, tudo estava arrumado, consegui ajeitar tudo sem ninguém desconfiar, minha mãe ainda ficava pensativa nos cantos, sempre com um olhar triste, de desapontada, aquilo realmente cortava meu coração, dando mais incentivo pra cometer a tal loucura de ir embora pra um país desconhecido, grávida de gêmeos.

            Chega o tão esperado dia. Eu e a Graziiy já tinha planejado todo o esquema, ninguém além de nós duas e um amigo nosso que também estava indo pra Bélgica sabia.
            Acordei com uma forte dor de cabeça, eu estava preocupada não consegui dormi direito. Levantei zonza da cama, quase três meses de gestação minha barriga já apontava, ou melhor, ela já tava bem grande. Segurei na cômoda a fim de ganhar sustentação, uma auxiliou minhas pernas doíam também.
            Cheguei à cozinha, minha mãe estava sentada com a mão apoiada no rosto, isso estava ficando freqüente.

- Oi, bom dia mãe! – Cumprimentei indo em direção ao banheiro.
- Bom dia! – Cumprimentou tristonha minha mãe.

            Meu coração? Em pedaços, claro, não gosto de vê-la sofrer, eu e minha mãe nunca tivemos tanta aproximação, estava acostumada a nem olhar no rosto dela de manhã, mas naquela situação era como se uma faca bem afiada estivesse passando por toda a extremidade de meu corpo.
            A manhã foi conturbada, arrumei escondida, minhas roupas em uma pequena mala que havia em meu quarto, não as dobrei com cuidado, fui jogando tudo lá dentro. Peguei também as roupinhas dos meus bebês, que já tinha ganhado de amigos, vizinhos e parentes.
            Minha mãe saiu cedo pra trabalhar na creche, meu irmão caçula ainda dormia, e meu outro irmão estava pra escola, meu pai ficava a semana inteira no posto onde trabalha pra não poder olhar minha cara quando estivesse em casa. Ele tava com muita raiva de mim, na verdade eu também estava.

            Já de malas prontas liguei pra Graziiy.

- Ou já arrumei, vem aqui buscar, por favor, chama o Moises também.
- Ta bom Pam, você ta levando tudo?
- Sim, não quero deixar nada pra trás, vai ser como se eu nunca tivesse existido.
- Você tem certeza que é isso que você quer?
- Sim, tenho certeza Graziiy. Ou vou desligar me deu fome.
- Ta bom, daqui 10 minutos to aí.
- Ta bom. Xau.
- Xau.
            Desliguei rapidamente o telefone, estava com fome, muita fome por sinal. Na cozinha agarrei um pacote de bolachas. Sentei na sala com as pernas pra cima, liguei a TV estava passando Bob Esponja.
- Rafaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaael! – Gritei pra acordar meu irmão caçula.
- Você é feia! – Gritou do quarto. Não sei a graça que tem mais ele sempre fala isso comigo, talvez ele tenha mesmo razão.
- Ta passando Bob Esponja amor, vem ver.

            Sem demorar nem um segundo a mais ele saiu correndo do quarto, e se jogou no sofá. Ficamos em silêncio, ou melhor, eu estava em silêncio meu irmão que não.

- Paaaam... – Escuto alguém me chamar ao longe.
- Too indo... – Sabia que era a Graziiy, conheço a voz dela de longe. Peguei minha mala que estava escondida no guarda-roupa e a levei até minha prima.
- Pronto ta tudo aqui – Disse fechando a porta do carro – Acho que não ficou nada pra trás, assim que minha mãe chegar da creche eu vou pra sua casa viu Graziiy.
- Ta bom Pam, agente vai ta te esperando lá.
- Ok! Agora eu vou entrar por que o Rafa já ta acordado.
- Ta bom, xau.
- Xau gente.

            Caminhei em direção a porta do fundo, uma tristeza me abateu, deixar minha família era difícil pra mim, necessário, mas difícil.

- To com fome! – Reclamou meu irmão ao me ver na porta da sala.
- Ta bom, já to indo arrumar algo pra você comer, trem. Pode ser rosca com Nescau?
- Rosca de açúcar, com Nescau e café.
- Ta bom.

            Procurei na ponta dos pés uma sacolinha com as roscas que minha mãe havia comprado antes de sair, peguei o Nescau no armário. Sentei na mesa e com muita preguiça cortei a rosca antes de tacar Nescau dentro delas. Fiquei enjoada ao ver aquela rosca no prato. Sai correndo pro banheiro.

            Que droga, odeio quando acontece isso. Lavei minha boca, escovei meus dentes novamente, e levei o lanche pro meu irmão impaciente na sala.
- Pronto, come rápido, tenho que te dar a vitamina antes do 12:00 hrs.
            Sentei no outro sofá, estava passando Os pingüins de Madagascar, eu adoro esse desenho, sinceramente aqueles pingüins são doidões.
            O resto da manhã foi chato, tomei banho, arrumei meu cabelo, dei a vitamina por Rafa, quando minha mãe chegou, ela preparou o almoço com calma, após ter comido fui ao meu quarto, precisa dormi, queria ter um momento em que não tivesse que me preocupar com nada, que eu pudesse viver o que eu queria viver, e não o que fosse melhor pros outros.

Acordei enjoada, por causa do cheiro de alho fritando que vinha da casa de minha avó que é ao lado da minha.
            Quando deu aproximadamente 14:00 hrs disse a minha mãe que iria na Graziiy, eu estava de chinela havaiana, de short e bata branca, com florzinhas na borda.
            Minha mãe não disse nada. Parei em frente ao portão, olhei pela ultima vez minha casa, a partir de agora eu era apenas uma mera lembrança pra eles. Andei com rapidez pelas ruas pouco movimentadas. Percorri o mesmo trajeto até a casa de minha prima, o carro de nosso amigo já estava estacionado em frente ao beco.
            Entrei na casa, minha tia não estava lá, nem ela sabia que estávamos indo embora. Moises segurava uma mala em uma de suas mãos e a Graziiy acabava de fechar a mala do João Pedro.
- Oi... – Cumprimentei.
- Oi Pam, nossa você vai assim?
- Uai, como você queria que eu saísse de casa? De salto alto? Minha mãe iria achar estranho, eu vou trocar de roupa aqui, não pira ta.
- Hahaha, então vai de pressa por que minha mãe daqui a pouco chega e ela não pode nos ver saindo.
- Ain, não grita já to indo.

            Entrei no outro quarto, peguei minha bolsa que estava no sofá, eu já tinha colocado nelas as roupas da viajem então a Graziiy não a jogou no carro junto com as malas. Coloquei uma sapatilha rosa, uma calça preta e uma bata branca de laço rosa.
- Ta bom assim. –Disse saindo do quarto. – Vamos?
- Onde vocês estão indo com essas malas? – Perguntou minha tia, nos surpreendendo ao chegar à porta da sala.
- Mãe, deixa eu te explicar, boom... – A Graziiy contou toda história pra minha tia, menos é claro o nome do pai dos meus bebês, a reação da minha tia foi completamente estranha da reação que eu esperava.
            Ela sorriu.
- Bom vocês são maiores de idade, sabem o que vão fazer – Ela falava olhando pra mim – Mas Pami, você tem certeza que vai para um lugar desconhecido, grávida de gêmeo? Ta certo que você vai estar com a Grazielle e com o Moises, mas sua mãe e seu pai não vão estar por perto, e você também ta ciente que a Grazielle não tem nenhum juízo né...
- Mãe! –Reclamou Graziiy.
- Você sabe que é verdade, só estou alertando, por que depois vocês voltam aí chorando, e reclamando que ninguém avisou que seria difícil.
- Eu sei que não vai ser nada fácil Tia, mais eu não posso ficar aqui no Brasil, não posso – Falei colocando uma mão sobre minha barriga – Nós ficaremos bem. – caminhei para dar um beijo em minha tia, ela nos acompanhou e nos ajudou a colocar o resto de malas que faltava no carro.

            Nos despedimos...


Continua...

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