Esqueci de Te Esquecer...

Capitulo 56

             Caminhei lentamente, decidida sobre o que queria ali. Cheguei à recepção. Encontrei Rober no saguão.

- Oie... – Cumprimentei abraçando-o.

- E aí menina como você ta? E os bebês por que não os trouxe?

- To bem Rober, não deu pra trazê-los, precisava falar com Luan a sós, ele ta lá em cima?

- Sim pode subir.

- Ah... Obrigada!

- Por nada, mais Pam... – Chamou Rober me parando – Cuidado com o que você vai dizer a ele guria, pense bem. Não repita o que você fez da ultima vez.

- Eu não vou fazer nada de mais Rober, só irei concertar o meu erro – Sorrir dando-lhe um beijo no rosto de despedida.

            Andei ate o elevador, sem olhar pra trás. Lá dentro o clima tava tenso, bati os pés com uma rapidez desnecessária. Estava nervosa. Os números se arrastavam, fiquei louca. Queria acabar com isso de uma vez por todas, preferia nem estar ali mas me sentia na obrigação de avisar Luan sobre minha partida.

            Enfim o elevador para. Sai com pressa, ao longe vi alguém conhecido. Era o Well.

            Caminhei tímida em sua direção. Ele me viu e sorri.

 - Oi Well! – Cumprimentei.

- Olá, mamãe! – Brincou – Tudo bem?

- Acho que sim... – Levantei uma sobrancelha olhando pra porta – Ele está ali?

- Sim... Ele está te esperando, o Rober acabou de ligar dizendo que você estava subindo.

- Imaginei que ele iria fazer isso – Suspirei – Hãn... Deixa eu ir né, enfrentar a fera.

- Boa Sorte! – Desejou Well como se eu tivesse entrando em um camarim.

- Ah, obrigada!

            Peguei na maçaneta meu coração quase pulou da boca. Well apenas observava minhas reações.

            Coloquei meu rosto na porta, precisava de forças pra dizer tudo que queria a Luan, mas não sabia onde encontrá-las pra isso. Uma lágrima escapuliu e escorreu pelo meu rosto, fechei os olhos, concentrei num som que vinha de dentro do quarto.

            Eu sabia que música era essa. “Será que foi saudade? – Zezé di Camargo e Luciano”. 

“Diga logo o que te trouxe aqui
Fala, que eu tô louco pra saber
O que fez você mudar tão de repente ?
O que te fez pensar na gente ?
Por que voltou aqui ?
Fala que você não me esqueceu
Que a solidão não doeu só em mim
O que fez você mudar seu pensamento
O que tocou seu sentimento ?
Por que voltou aqui?

Eu não posso acreditar nessa mudança
Onde a fera vira santa
E quer voltar pra mim

Será que foi saudade
Que te machucou por dentro
Que te fez por um momento
Entender de solidão?

Será que foi saudade
Que te fez quebrar a cara?
Sou doença que não sara
Dentro do seu coração...”

Respirei fundo, mais lágrimas caíram.

- Eu não vou conseguir dizer adeus a ele Well – Desabafei num sussurro sofrido.

- Então não diga adeus, diga apenas o que seu coração pedir Pami, sei que você ainda o ama.

- Não... Eu não o amo – Menti pra mim mesma.

            Bati na porta, o som parou.

- Pode entrar – Disse Luan sem voz.

            Torci a maçaneta lentamente. Abri a porta mais devagar ainda, não quis olhar no rosto de Luan, caminhei adentro do quarto. Fechei a porta.

- Oi... – Cumprimentou Luan.

            Fui levantando minha cabeça aos poucos, apanhando coragem de vê-lo e não chorar, dizer adeus sem desistir. 

- Oi... – Cumprimentei assim que estava pronta pra olhar em seus olhos.

- Você ta bem? Parece um pouco pálida! – Observou Luan.

- Olha quem fala, até parece que to mais branca que você.

- Hahaha, cadê nossos filhos?

- Deixei meus filhos com o Caio, precisava falar com você a sós.

- Hum... Vem senta aqui, vamos conversar então.

- Não, não preciso sentar, vou ser rápida, preciso voltar pro hotel, tenho que arrumar as malas.

- Que mala? – Perguntou Luan num tom alterado, ele se levantou da cama com uma rapidez exagerada, já sabia o que tinha que enfrentar. Respirei fundo.

- Você já sabe Luan.

- Você não esta pensando em...

- Eu não to pensando, já ta tudo resolvido, eu e meus filhos estamos voltando pra Bélgica, amanhã mesmo.

- Pam... Você não pode tirar meus filhos de mim. – Pediu Luan.

- Eles não são seus filhos garoto. – Gritei – AAAAAAAAAAAAin  já vi que não conseguimos nos entender mesmo, eu só queria te avisar que estamos indo embora, mas já me arrependi de ter vindo aqui. – Confessei virando-me pra porta, estava decidida em ir embora e não olhar nunca mais pra Luan.

- Pami... – Ouvi a voz mais linda, mais gostosa do mundo me chamar. A voz estava tão baixa, tão triste. Não andei mais, fiquei imóvel, parada que nem estatua.

- O que... – Respondi.

- Você não vai fazer isso comigo né?! – Perguntou Luan. Ouvi seus passos se aproximar mais e mais de mim.

- Eu não to fazendo nada Luan... – Disse ainda de cabeça baixa.

- Não tira os meus filhos de mim Pami...

            Enxuguei as lágrimas que a esta hora já aviam jorrado pelo meu rosto. Virei ficando cara a cara com o amor da minha vida, ele estava tão próximo, pude ouvir seu coração acelerado.

- Como você tem tanta certeza que aquelas crianças são suas? – Perguntei olhando em seus olhos.

- Pami o teste de DNA não mente.

- Ele pode estar errado né – Tentei continuar a confirmar, mas era inútil sabia disso.

- Eles são nossos filhos meu amor... – O mundo parou, ficamos em silêncio, os segundos pareciam horas, Luan me olhava nos olhos, minha respiração ofegou, eu abaixei o olhar. Luan pegou em meu queixo – Pam, não faz isso comigo, não os tire de mim! – Pediu mais uma vez.

Pensei em desistir.  Pensei em me entregar a ele ali, naquele instante. Seus lábios estavam muito próximos dos meus. Eu ia beijá-lo. Eu queria beijá-lo.

- Por favor? – Luan fez seu ultimo pedido, meu coração doeu o vendo assim, ele então desviou seu olhar pra minha boca e se achegou mais um pouco. Em alguns segundos estaríamos nos beijando, mas minha falta de coragem não deixou.

- Não posso Luan! – Disse me desviando de Luan e saindo de sua frente. Luan colocou sua cabeça na porta que estávamos prensados. –O Caio não merece isso, Luan. Não posso fazer isso com ele – Continuei andando de um lado pro outro no quarto, Luan não se mexia.

- E comigo? Você pode fazer isso comigo?

- Eu já disse, não to fazendo nada com você. Pelo amor de Deus, aquilo foi só uma transa Luan. Agente ficou só uma vez, uma veizinha, não era pra gente nem te se visto novamente. – Disse de cabeça baixa. Estava mais perdida que cego no tiroteio, não sabia ao certo o que estava fazendo ali, despedindo? Estava mesmo despedindo de Luan? Por que? Por que estava fazendo isso mesmo? 

            Luan levantou o rosto. Respirou fundo, parecia procurar forças dentro de si. O olhei atenta a cada detalhe de suas expressões, seus olhos voltaram a me encontrar, estava um pouco longe, pude respirar mais tranqüila.

- Vem quero te mostrar uma coisa – Dizia Luan se aproximando de mim. Comecei a desesperar, iria começar tudo de novo, ele segurou em minha mão, encaminhando até sua cama – Eu não sou muito bom com as palavras – Assumiu mexendo em seus cabelos - Então vou mostrar o que sinto por você em forma de música – Sorriu timidamente. Posso confessar, estava boiando naquele sorriso. Luan se esticou e pegou seu violão, e com o mais lindo som, começou a tocar...

“Eu sei que já não tenho idade
Pra ficar tão dependente.
Mas eu mudei quando te olhei,
Você me fez pensar pra frente.
Por mais que eu tente desviar,
Tô sempre em sua direção
Parece que eu soltei do mundo,
E segurei só na sua mão.

Tava pensando em te roubar
Fugir pra longe do país
Comprar um lugarzinho em Cancún
Não é que você sempre quis?

Sem precisar me preocupar
Em te levar pra casa cedo
Enquanto eu estiver do seu lado
Não precisa mais ter medo

Porque se me perguntar
Quem eu respiro é você, você, você
Se for pra escolher
O céu ou a terra, respondo você
Se quiser saber
Minha alegria é te ver, te ver, te ver

Quem sabe eu te quero tanto assim
Porque eu esqueci de te esquecer.”

           

            As lágrimas caiam. Luan também se emocionou. O som do violão parou, a voz de Luan se calou, o único som do quarto era novamente de nossos corações. Ficamos nos olhando por vários e longos minutos, ninguém dizia nada, ninguém se mexia, nem mesmo nossos olhares se desviavam, tinha apenas um ponto, um foco, um ou outro.

            Resolvi quebrar o silencio. 

- Desculpa Luan, eu não posso... – Levantei da cama, meus pés tocavam o chão com rapidez, queria sair dali logo, não podia ficar mais um segundo se quer vendo Luan naquele estado. Era demais pra mim.

- Eu te amo! – Enfim disse Luan fazendo-me parar com a mão na maçaneta – Eu amo você Pami – Ouvi seus passos pelo quarto – Eu te amo... E te amei desde o primeiro momento que te vi naquele aeroporto – Luan se encostou a mim, seu rosto no meu ombro – Eu sei que você também me ama Pam... – Sussurrou no meu ouvido.

Virei-me. Queria confrontá-lo e perguntar qual era o problema dele, queria abrir aquela porta e fugir novamente, sumir, desta vez desaparecer mesmo, mas não consegui nem se quer tirar os olhos da boca de Luan, meu corpo pedia o dele, minha alma queria se entrelaçar com a dele como na ultima vez e nunca mais deixá-lo, um lado de mim pedia pra ir embora, o outro pedia pra ficar. Queria beijá-lo e viver o resto de minha vida ao lado de Luan.

Respirei fundo, abaixei meu rosto.

Luan nos juntou na porta, passou sua mão em meu rosto ainda abaixado, enxuguei os olhos sentindo aquele calor, aquela mão macia me acariciando. Luan pegou meu queixo forçando nossos olhares se encontrarem.

Mergulhei na imensidão de seus olhos pretos, sua mão saiu de meu queijo e foi pra minha nuca, sentiu ma força me puxando pra ele, tentei relutar, mas foi inútil. Na verdade nada seria útil naquele momento. Não tinha como dizer não. Era tudo o que eu queria...

Continua...